Aos cancerosos
Basta de compor poemas líricos e suaves
Perfumados de amor
E cheio de flores
Hoje vou dizer adeus à musa dos campos e da brisa
Darei um chute no lirismo
E farei o meu verso pesado
Tão pesado que eu mesmo não conseguirei levantá-lo
Com o guindaste da minha voz
Soltei o cantochão dos dínamos e dos átomos frementes
E invocarei as musas do pecado
As musas das armas bélicas
Do fogo
Das metralhas
Do ópio
Da podridão
Chega de lirismo e versos de amor
Que fiquem amontoados no fundo do sótão
Os amores as flores os perfumes e o romantismo
Hoje quero gritar versos desesperados
Alucinados
Quero vomitar o pus das feridas
Tirar os emplastros e os curativos dos tumores
E dos furúnculos
Tirar membranas virginais
E deixar marcas vermelhas nos seios das prostitutas
Quero masturbar minhas idéias
E cuspir o sangue dos tuberculosos
Gritar desconvalidos verbos
Mandar as favas todas as seitas
E todas as religiões
Vamos incendiar o mundo Nero
Vamos fazer armadilhas Átila
Vamos ironizar os apóstolos e todos os papas
Erguer altares profanos
Abaixo as Repúblicas
E os Impérios
Abaixo os regimes verdes do nosso povo
Viva os ditadores
À forca com os ministros
Paredão aos embaixadores
Solitárias para os militares
Chega de condutores com armas empunhadas
Com sabres calados
E tiros traiçoeiros
Vamos abrir os porões dos navios negreiros e de guerra
Vamos inundar o triângulo final da América do Sul
Arrebentando as eclusas de Sete Quedas
Vamos desviar o Amazonas e o Nilo
O Mississipi o Eufrates, o Ganges e São Francisco
Fazer o caos reinar sobre a terra e sob os céus
Numa total alucinação
Estuprar idéias e mãos que trabalham
Vomitar o ódio profundo
De sermos dominador por répteis cancerosos
Que ganharam à força o poder do povo
Abaixo a ditadura e os ditadores
Cadeia para todos
Hoje não quero compor poemas líricos e suaves
30.11.1982
Esio Antonio Pezzato
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