Circo do Veneno

Foto do Veneno

Circo do Veneno

         Esio Antonio Pezzato
 
 
 
          – Hoje tem goiabada?

          – Tem, sim senhor!

          – Hoje tem marmelada?

          – Tem, sim senhor!

          – E o palhaço que é?

          – É ladrão de mulher!

     

           Hoje o mundo do circo mudou muito.

        São grandes espetáculos armados, apresentações gigantescas, grandes atletas profissionais, dançarinos, mágicos internacionais, artistas de renome.

          São consumidos milhões na armação de um espetáculo, atrações como malabaristas, globo da morte, imensos picadeiros que fazem o público ficar entusiasmado.

          Para assistir a um espetáculo desse porte depende-se uma pequena fortuna. E, com certeza, nesses mega espetáculos não têm goiaba, não tem marmelada e o palhaço não rouba mulher.

     Em Piracicaba houve um tempo que tivemos o maior Circo do mundo!

     Oswaldo Moreira e Dalila de Oliveira Moreira foram Veneno e Dalila que durante décadas, com seu Circo visitaram todos os bairros de Piracicaba e também diversas cidades do interior de nosso Estado.
         Grandes duplas sertanejas do passado e muitas que ainda ponteiam com sucesso neste Brasil imenso, tiveram um dia, a glória de pisar no picadeiro do circo da Dalila e do Veneno, como Milionário e Zé Rico, Chitãozinho e Xororó, Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco...

          O artista em sua mais pura emoção, de frente com o público: o palhaço, o comediante, muitos dramas e pastelões tiveram espaço nesse Circo que deixou saudade.
Fora o Circo, a grande paixão de Veneno (devoto do Bom Jesus de Pirapora), era, todos os anos ir para a estrada ajudar e servir aos romeiros que caminhavam rumo a Pirapora. E assim foi durante muitos e muitos anos...
          Em “Os Caipiras”, 2009, há algumas poucas estrofes, retratando todo o sentimento e o respeito que todos devemos pelo artista circense, particularmente a essa dupla de artistas que tanto levaram alegria e prazer para nossa cidade. 

          Quero reproduzir aqui essa homenagem a esses artistas tão populares e tão a gosto de nosso povo.

           Circo do Veneno

 
  Na tradição oriunda dos Romanos,

 E que chegou até os nossos dias,

 Os artistas mambembes e ciganos

 Mostram suas geniais alegorias

 Pelos bairros caipiracicabanos.

 E, mostrando fiapos de poesias

 Palhaços, comediantes e cantores,

 Na alma do povo exaltam seus amores!

  É o Circo que em total felicidade

  A uma plateia faz feliz aceno,

 Sempre deixando um hino de saudade

 Quando vai aportar noutro terreno.

 Mas quem mais alegrou esta cidade

 Que o Circo de Dalila e do Veneno?

 Após contar doidivagante causo,

 O Circo estremecia num aplauso!

  Eram velhos cantores sertanejos

 Cantando apaixonados, belas toadas.

 Ou palhaços lançando seus cortejos

 Buscando na plateia as namoradas,

 Para em declarações de mil gracejos

 Mostrarem suas almas encantadas...

 Ou talvez velhos dramas de revistas

 Feitos pelos simpáticos artistas.
         

 Mas Dalila partiu, aqui deixando,

 Um coração envenenado e triste,

 Que agora mesmo em prantos vai mostrando

 Que a amargura nos circos inexiste.

 Veneno em velhas toadas vai cantando

 Porque seu coração fiel resiste:

 Onde houver uma lona ou um tablado,

 Estará esse Artista apaixonado.