Neste mês de Junho, quando comemoramos Santo Antônio, São João e São Pedro, nada melhor que um poema de época. Esses versos escrevi em 1996, a pedido de meu saudoso amigo Amadeu Provenzano. Lembro-me que ele me pediu e quinze minutos depois eu liguei a ele dizendo o que havia composto. Ele adorou. Decorou o poema e em suas apresentações dizia que ele demorava mais tempo para declamar do que eu havia demorado para compor esses versos.
Gostei do resultado e publiquei o mesmo em meu livro Romaria, de 1997. Espero que gostem...
Esio
Festa Junina
Soa a marvada viola
E ela a minha arma
consola,
– Consola o meu
coração.
Pois hoje – aqui na
cidade,
Vivo preso na saudade
De uma noite no
sertão.
Enquanto os versos
rascunho
Recordo... era o mês
de junho,
Muito frio,
cerração...
Mas numa aberta
clareira
Ardia imensa
fogueira,
– Era Noite de São
João!
A lembrança me
apaixona,
Pois quando o Zé da
Sanfona
Mesmo antes da
procissão
Tocava lindos
dobrados,
Já deixava
apaixonados
Os moços da multidão.
E o baile então
começava,
Eu a Rosinha flertava
Como quem quer nada
não...
E ela – fagueira e
formosa,
Com as faces
cor-de-rosa
Mantinha a mesma
intenção...
O balão no céu subia,
E uma garoinha fria
Embaçava os lampião;
E a gente então, bem
sapeca,
Tomava cheia a caneca
De um delicioso
quentão.
Logo o céu, todo
entrevado
Se tornava iluminado
Com o brilho do
balão.
E cada estrela
cadente
Deixava ainda mais
quente
Dentro da alma o
coração.
O amor passeava
sorrindo
O foguetório tão
lindo
Causava admiração.
– “Mas quem foi que
teve ideia
De soltar traque de
veia
No improvisado salão?”
A criançada sapeca
Sempre levada na
breca,
Sempre numa danação
Solta busca-pé
somente
Pra ver as moça
demente
Erguer a combinação.
E o alvoroço é
completo,
Mas eu, em meu canto,
quieto,
Dizia com inspiração
Para Rosinha catita
Uma trovinha bonita
Do fundo do coração.
E o rojão no céu
estoura
E a noite a esperança
doura
Na nossa imaginação.
Chabum! Chabum! E a
poesia
Toma conta da alegria
E a bomba estoura no
chão.
Rosinha come pipoca,
E eu lhe tasco uma
beijoca,
– Beijo roubado é tão
bão!
E ela abanando-se ao
leque,
Mordeu meu
pé-de-moleque
E não faz
contestação.
No céu a chuva de
prata
Faz de luzes serenata
No poema da sedução.
Rosinha fica
acanhada,
Diz estar apaixonada
E me oferta o
coração.
D. Maria, coitada,
Chega toda atrapaiada
E pergunta pro Tião
Se não é este o
momento
De fazer o Sacramento
Das reza e da
procissão...
– “Ainda é cedo,
comadre,
Pois já convidei o
Padre
Pra vir fazer o
sermão.
Mas antes será levado
Pra no rio ser lavado
Nosso querido São
João!...”
Enquanto isso no
terreiro
O veio Zé Sanfoneiro
No arrasta-pé e no
baião
Mais animava a
festança
E o povo todo na
dança,
Era só animação.
E na noite tão bonita
A alegria era
infinita
E causava sensação...
E um outro, num
arremedo
Gritava: –“viva São
Pedro!
Santo Antonio! E São
João!”
E havia um calor bem
terno,
Que nem parecia
inverno,
Bem parecia verão...
Pudera... D. Maria
Vendo a caneca vazia
Nela punha mais
quentão.
Mas eu, com a alma
quentinha
Ficava oiando Rosinha
Numa traje
chita-fustão.
Eu a oiava... ela me
oiava,
E nossa alma tava
escrava
De um amor feito
paixão.
Mas logo D. Maria
Manda parar a folia
Que o padre, de um
carroção,
Para a multidão
acena,
Quer o início da
novena
E também da
Procissão.
E todos ficam
rezando,
Mas, disfarço e fico
oiando
A minha Flor do sertão.
E sou um tanto
atrevido
Quando faço o meu
pedido
E ela atenta, me ouve
então.
E digo todo brejeiro,
Que quero ser o
Padroeiro
De uma festa de São
João,
Para – aos dobrados
da orquestra,
Dar a minha própria
festa
E a Rosinha – a minha
mão.
E sou bastante
atrevido,
Faço ali o meu pedido
Aos pais de Rosinha
então...
E ela me ouve e não
diz nada,
Mas com as faces
rosada
Fica a sorrir de
emoção.
Bem maneiro tiro
linha,
E peço para Rosinha
Com amor e devoção,
Que me aceite seu
amado,
Pois lhe digo
apaixonado
Que é dela o meu
coração.
E então no mesmo
momento
É marcado o casamento
Com grande
satisfação.
– Minha alma é um céu
que se doura
Pois dentro da noite
estoura
Mais um festivo
rojão.
Hoje, distante de
tudo,
Na cidade vivo mudo
Na minha recordação.
E o meu céu todo
entrevado
Já não fica mais
dourado
Com o brilho de um
balão.
Tudo se perde a
distância,
Rosinha é um sonho da
infância,
Apenas um sonho
vão...
E me resta a
intensidade
De uma palavra –
Saudade!
De uma festa de São
João.
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