Poema de Férias
I
Saio a passear... as nuvens arrogantes
Parece que conhecem meus passeios;
Me acompanhando vão extravagantes
E não mostram, por mim, quaisquer receios.
Se agora eu fosse um mágico, faria
Como Shimoda, desaparece-las.
Mas qual! Eu faço e muito mau poesia,
Que, às vezes, nem mesmo eu chego a entende-las.
Creio que sou Poeta por acaso.
Melhor: alguns de chamam de Poeta.
– Nunca bebi nas fontes de Parnaso,
Nem tenho o porte altivo de um atleta!
Um semideus, como eram os antigos:
Vergílio, Homero, Baudelaire, Petrarca...
Nunca comi da Chelidônia os figos,
E nem tive uma gôndola ou uma barca!
Nem fui herói! Sequer tive um cavalo.
Pios ainda, nem sequer montei-o
Com esses pensamentos eu me abalo
E volto para casa sem passeio.
II
Vou direto em meu quarto para a cama
E penso ler qualquer coisa que preste.
Porém, a minha mente mais se inflama
Quando leio um gibi de faroeste.
Depois, rio a valer... me delicio
Com as aventuras e com as fantasias
Do Patacôncio, do Donald e o Tio
Patinhas, que emprestei do amigo Elias.
Ele tem uma coleção completa
De todos os gibis, e eu, na aventura,
Rindo das maluquices do Pateta,
Não quis saber mais de Literatura.
Os decassílabos e alexandrinos
Podiam esperar, pois cada trama
Dos personagens, tinha mil destinos
Que me faziam rir... rolar na cama.
III
Outras vezes eu vinha para a casa
Para cuidar das minhas lindas flores:
– A avenca está com a terra um pouco rasa...
– Disso já vou cuidar com mais amores!
As samambaias, os jasmins e os cravos,
E o chorão com a grama japonesa
Davam trabalho para dez escravos
Libertados, porém pela Princesa!
Porém valia a pena... as samambaias
Com as folhas compridas de três metros,
Mais pareciam flutuantes saias,
E os cravos, pareciam lindos cetros...
Foi olhando essas plantas que eu, um dia,
Escrevi “Sonho e Realidade” e os músicos
Jorge e Anuar, com grande maestria,
Musicaram-na em bela marcha-rancho.
(Viram, faltou a rima ao verso acima,
Mas faço agora rima coroada
Para ajustar a que faltou em cima
E fica tudo conta já acertada.)
Enquanto eu conto as sílabas nos dedos
A metrificação correr perfeita,
Assim eu me desvencilho dos segredos
Do Verso, já que a rima sai bem feita.
IV
Em casa sem ocupação é duro!
O ócio mata bem mais do que o trabalho.
Porém, eu faço um juramento: eu juro
Que a tarde inteira vou jogar baralho!
Após o almoço, é bom jogar um truco;
Com o Isael de parceiro, não tem caldo.
Enquanto o Júlio nos prepara “um suco”,
Eu berro “seis!” no “truco” do Geraldo.
Era vidinha boa... agora em Julho,
Com o vento soprando a todo instante,
Vou mostrar às crianças, com orgulho,
Que a minha pipa voa mais distante!
Afinas as varetas é proeza
Da minoria, pois, eis o segredo:
– Se não segura a faca com firmeza
Bem mais fácil será afinar o dedo!
E quem já viu um dedo de varetas?
Nossa Senhora! Isso é demais, tolice...
Agora vou tomar três vacas-pretas,
E logo após eu vou jogar boliche!
Porém, Julho se acaba e vem agosto...
O prazer que é benigno, dura pouco.
O vento frio vem bater no rosto,
E é além do mais, mês de cachorro louco!
Meu poema também vai se findando
E vou pensando em coisas bem mais sérias:
Eu vou passar os dias trabalhando
Com o pensamento fixo – em outras Férias!
26.07.1982
I
Saio a passear... as nuvens arrogantes
Parece que conhecem meus passeios;
Me acompanhando vão extravagantes
E não mostram, por mim, quaisquer receios.
Se agora eu fosse um mágico, faria
Como Shimoda, desaparece-las.
Mas qual! Eu faço e muito mau poesia,
Que, às vezes, nem mesmo eu chego a entende-las.
Creio que sou Poeta por acaso.
Melhor: alguns de chamam de Poeta.
– Nunca bebi nas fontes de Parnaso,
Nem tenho o porte altivo de um atleta!
Um semideus, como eram os antigos:
Vergílio, Homero, Baudelaire, Petrarca...
Nunca comi da Chelidônia os figos,
E nem tive uma gôndola ou uma barca!
Nem fui herói! Sequer tive um cavalo.
Pios ainda, nem sequer montei-o
Com esses pensamentos eu me abalo
E volto para casa sem passeio.
II
Vou direto em meu quarto para a cama
E penso ler qualquer coisa que preste.
Porém, a minha mente mais se inflama
Quando leio um gibi de faroeste.
Depois, rio a valer... me delicio
Com as aventuras e com as fantasias
Do Patacôncio, do Donald e o Tio
Patinhas, que emprestei do amigo Elias.
Ele tem uma coleção completa
De todos os gibis, e eu, na aventura,
Rindo das maluquices do Pateta,
Não quis saber mais de Literatura.
Os decassílabos e alexandrinos
Podiam esperar, pois cada trama
Dos personagens, tinha mil destinos
Que me faziam rir... rolar na cama.
III
Outras vezes eu vinha para a casa
Para cuidar das minhas lindas flores:
– A avenca está com a terra um pouco rasa...
– Disso já vou cuidar com mais amores!
As samambaias, os jasmins e os cravos,
E o chorão com a grama japonesa
Davam trabalho para dez escravos
Libertados, porém pela Princesa!
Porém valia a pena... as samambaias
Com as folhas compridas de três metros,
Mais pareciam flutuantes saias,
E os cravos, pareciam lindos cetros...
Foi olhando essas plantas que eu, um dia,
Escrevi “Sonho e Realidade” e os músicos
Jorge e Anuar, com grande maestria,
Musicaram-na em bela marcha-rancho.
(Viram, faltou a rima ao verso acima,
Mas faço agora rima coroada
Para ajustar a que faltou em cima
E fica tudo conta já acertada.)
Enquanto eu conto as sílabas nos dedos
A metrificação correr perfeita,
Assim eu me desvencilho dos segredos
Do Verso, já que a rima sai bem feita.
IV
Em casa sem ocupação é duro!
O ócio mata bem mais do que o trabalho.
Porém, eu faço um juramento: eu juro
Que a tarde inteira vou jogar baralho!
Após o almoço, é bom jogar um truco;
Com o Isael de parceiro, não tem caldo.
Enquanto o Júlio nos prepara “um suco”,
Eu berro “seis!” no “truco” do Geraldo.
Era vidinha boa... agora em Julho,
Com o vento soprando a todo instante,
Vou mostrar às crianças, com orgulho,
Que a minha pipa voa mais distante!
Afinas as varetas é proeza
Da minoria, pois, eis o segredo:
– Se não segura a faca com firmeza
Bem mais fácil será afinar o dedo!
E quem já viu um dedo de varetas?
Nossa Senhora! Isso é demais, tolice...
Agora vou tomar três vacas-pretas,
E logo após eu vou jogar boliche!
Porém, Julho se acaba e vem agosto...
O prazer que é benigno, dura pouco.
O vento frio vem bater no rosto,
E é além do mais, mês de cachorro louco!
Meu poema também vai se findando
E vou pensando em coisas bem mais sérias:
Eu vou passar os dias trabalhando
Com o pensamento fixo – em outras Férias!
26.07.1982
Esio Antonio Pezzato
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