Fios de cabelo
Sobre a cama
esses fios de cabelo
Ficam a
denunciar tua presença,
Que ainda a
evoco em sublimada crença
Com minha voz
em desvairado apelo.
E faço então
simbólico novelo
Com cada fio e
na paixão intensa,
Por saudade –
carrego a recompensa
Que um corpo
ausente, chego então a vê-lo.
E arde em mim
a paixão insana, louca,
Vontade
alucinada, extravagante,
De teu corpo
beijar com minha boca.
Mas
tão-somente em minha cama resta
Entre os
lençóis – a tua forma amante
E um cheiro
que por todo o ambiente infesta.
30.01.1997
Ao acaso
Samantha Rios
Se eu te
encontrar à noite em qualquer rua
Passeando com
a nova namorada
A cicatriz que
ainda em meu peito nua
Sangra na
angústia fina de uma espada
E o coração
que ainda sangue sua
Atrapalhado
não te fira em nada
Mas eu vou te
mostrar que ainda sou tua
Pois minha
pele ainda está marcada
Com as
tatuagens de fogo que fizeste
Para que eu
fosse tua como escrava
E em mim estás
marcado como a peste
Que põe na
pele a marca da doença
E se a gente
se esquece e a esfrega e a lava
Mais ela em
nossa pele atroz se imprensa!
03.02.1997
Sonetinho da
saudade
Agora que a
saudade me acompanha,
Não serei mais
tão só na longa estrada.
Junto dela
estarei na caminhada
Enquanto as
faces o suor me banha.
Mas ela quer
ferir a minha entranha
– Com seus
palpos insiste na ferroada.
E quer fazer
em mim sua morada
Como se fosse
tenebrosa aranha.
Pois ela andar
comigo até que aceito,
Às vezes dói,
mas não machuca tanto
Pois causar
desespero – eis o seu jeito.
Mas ao tentar
cobrir-me com seu manto,
Isso, Saudade,
eu creio que é despeito
E eu não sou
bobo e muito menos santo.
06.02.1997
Flores sem cheiro
Tantos sonhos
eu busco em ansiedade
Que é bem
provável que eu um dia morra;
Do sonho vivo
preso na masmorra
E libertar-me
já nem sei quem há de.
Pois vivo preso
em invisível grade
Tais como os
altos muros de Gomorra.
E antes que à
liberdade alegre eu corra,
Serei morto
por essa liberdade.
Cobiço o
invólucro ainda não tocado,
A novidade que
ainda ninguém teve,
E a ânsia de
querer chegar primeiro.
Mas sempre com
meus passos, atrasado,
Ponho os pés
onde alguém já antes esteve,
E colho flores
que já não tem cheiro.
13.03.1997
0 COMENTE AQUI:
Postar um comentário