Só
mesmo a minha viola
Nesse
instante me consola
E à
vida me dá razão.
Nas
suas cordas ponteio
Perdido
no devaneio
No
sofrer desta ilusão.
Nas
cordas dedilho os dedos
Que
parecem ter segredos
Do
fundo do coração.
Sonhando
nas entrelinhas
Soltam
sentidas modinhas
Nessas
tardes de verão.
No
céu uma garça voa
E
reflete na lagoa
Seu
voo de mansidão.
Voa,
voa silenciosa,
Na
tarde maravilhosa
Que
põe luz na imensidão.
Coração
solta soluços...
Parece
chorar de bruços
Na
relva do capoeirão...
Eta
vida ingrata e falsa,
Modulo
agora uma valsa
Do
meu saudoso Paixão!
Se a
saudade é uma lembrança
Que
ao redor da vida dança
Com
grande satisfação,
No
seu ponto aprumo os passos,
E a
agarro com meus dois braços
Com a
força de um leão.
Saudade,
ingrata saudade...
Tens
toda a sonoridade
Nos
sons da minha canção.
Repito:
és ingrata, ingrata,
E meu
peito te retrata
Com
dor e consternação.
Saudade,
insano delírio,
Da
minha vida é martírio,
Causas
sofrer num desvão.
No teu
maléfico engenho
É
tudo o que já não tenho
Uma
ausência à solidão.
Saudade...
Conto-te as horas
Em
crepúsculos e auroras,
Na
trimestral Estação...
Solitário
no abandono
Na
Primavera me Outono,
Inverno
a pleno Verão...
Saudade...
Pequeno rio
Que
corre lerdo e vadio
E
serpenteia o sertão.
E um
dia, furor insano,
Vai
de encontro ao oceano,
Em
ondas de convulsão.
Saudade,
se bem me lembro
Vai
de janeiro a dezembro,
Vai
da luz à escuridão.
Qual
melodia esquecida
Cuja
rima vai perdida
Na
noite da Criação.
Saudade
é a ausência sentida
De
quem amamos na vida
Num
momento de ilusão.
E a
ilusão se torna viva
E
d’alma se faz cativa
Sempre
com o mesmo refrão.
E o
pranto nas faces rola,
Pois
chora a minha viola
E
chora a minha canção.
E com
densa intensidade
Canta
mais forte a saudade
Dentro
de meu coração.
18.12.2002
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