BLOGGER TEMPLATES - TWITTER BACKGROUNDS »

1º PRÊMIO RECEBIDO DO VEJABLOG - MELHORES BLOGS DO BRASIL

VejaBlog - Seleção dos Melhores Blogs/Sites do Brasil BLOG ESIOPOETA

SEGUIDORES

ACESSOS

contador de acesso

ROMARIA PIRAPORA 2013 - ESIOPOETA E AMIGOS

CLIQUE PARA LER O NOVO LIVRO DE SONETOS DE ESIOPOETA- CONTEMPLAÇÃO

COQUETEL DE LANÇAMENTO DO LIVRO DE SONETOS APRENDIZ DA PALAVRA DO POETA ESIO

RECEBA ATUALIZAÇÕES NO SEU E-MAIL

Entre com seu e-mail:

Delivered by FeedBurner

4 de abril de 2013

A respeito da canção “Piracicaba”


(Pequeno Estudo sobre uma Canção) 



A canção intitulada “Piracicaba”, de autoria do poeta e músico Newton de Almeida Mello, segundo depoimentos transcritos em jornais de nossa cidade, ou aos atribuídos ao autor, foi composta num certo dia 09 de setembro de 1931, “em cinco minutos” e sua primeira gravação aconteceu na voz do saudoso seresteiro Victório Ângelo Cobra, o popular Cobrinha, em LP gravado pelo selo Colúmbia. Segundo contemporâneos de Newton de Almeida Mello e dele próprio, fala-se que a música e os versos nasceram espontaneamente e a harmonização foi, primeira, do maestro Carlos Brasiliense, a lápis, para poder completá-la depois. Porém o maestro faleceu “logo em seguida” e Newton pediu ao maestro Danúzio Benencasse que fizesse os arranjos que se tornaram definitivos. (O que é contraditório, pois o maestro Carlos Brasiliense somente faleceu em 1954, vinte e três anos depois...)
Se na música não houve desarmonia nos arranjos do maestro Danúzio, a letra, porém, da canção, que mais tarde veio a se tornar o Hino Oficial de nossa cidade traz uma calamidade de distorções, erros, inversões violentas, acréscimo e omissão e mudanças de palavras, que se chega hoje a haver certa dificuldade em saber, ao certo, como era a canção original do nosso Poeta.
Os mais envolvidos na arte poética percebem de cara que o Poeta, ao compor sua magistral canção, fez uso dos quase que esquecidos versos eneassílabos, isto é: versos compostos em nove sílabas, segundo os cânones da metrificação.
Diferentemente, porém, dos clássicos versos compostos com propósitos hinários, que se utilizam cesuras nas 3as., 6as. e 9as. sílabas, Newton de Almeida Mello não teve tal preocupação, e usou a cesura nas 4as. e 9as., mais apropriado para uma canção. Isso nas três estrofes que compõem a compõem, sendo que para o refrão, como costuma acontecer, ele usou um esquema variado de métricas e ritmos que iremos analisar logo abaixo.
Pois hoje os famosos versos dessa canção estão tomando outros rumos. Alguns versos estão sendo cantados e escritos erradamente, e o que era uma composição harmônica e simétrica, está se tornando uma espécie chula e vazia de conteúdos, o que deixa, estruturalmente, o poema em si medíocre. Já existe até um verso sendo transformado em decassílabo sáfico, com cesuras nas 4a., 8a. e 10a. sílabas. É este o verso:

“Em outras plagas, que vale a sorte?”

que está sendo transformado em:

“Em outras plagas, ‘o’ que vale a sorte?”

sendo neste caso acrescentado o artigo masculino singular “o”, que faz transformar o verso perfeito eneassílabo, num decassílabo perfeito, com cesura nas 4a. 8a. e 10a. sílabas. Normal se não fossem as estrofes newtonianas eneassilábicas...

         Mas não somente a metrificação dos versos está mudando. Palavras, acentuações, termos estruturais das rimas estão desqualificando esta pequena obra-prima. Quem já leu o livro “Carrilhões”, de Newton Mello, irá verificar que ele era um Poeta de primeira ordem. Construía seus versos com precisão de ourivesaria. Não quebrava versos, tinha pleno domínio da metrificação, de cesuras, rimas, esquemas rimários. Tudo dentro dos cânones perfeitos da literatura.
         Mas as aberrações que estão se fazendo somente fazem por desmerecer o Poeta. Quem apenas lê os versos de “Piracicaba”, à maneira que estão sendo veiculados, pensa logo que Newton Mello era um poeta medíocre, já que tantas imperfeições podem-se fazer notar. Para isso desnecessário um longo estudo, pois os erros são às claras. Como apenas estudante da Arte Poética, irei me ater nesses pormenores que estão deturpando a canção “Piracicaba”, que através do Decreto Lei 2.207, de 30 de dezembro de 1988, passou a ser o Hino Oficial de nossa Cidade.
Aí começa a aberração, (claro que antes também já havia) mas, a Câmara Municipal de Vereadores da época, ao invés de ir buscar na fonte a composição correta, fez apenas copiar por um desavisado “escriba” os melodiosos versos e a catástrofe ocorreu. Os versos em quadras eneassílabas passaram a ser estrofes quebradas da oitava italiana, de oito versos quebrados. As rimas nos esquemas encadeadas, (o primeiro verso rimando no meio do segundo verso, o terceiro rimando no meio do quarto verso) e ainda as rimas intercaladas (nos finais do segundo verso rimando com o quarto verso), ficaram comprometidas. E o que se viu foi o seguinte: (e irei apenas primeiro transcrever as estrofes colhidas no “Carrilhões” e em seguida as oficializadas pela nobre Câmara de Vereadores de nossa Piracicaba):

“Carrilhões”

“Numa saudade que punge e mata
– Que sorte ingrata! – longe daqui,
Em um suspiro triste e sem termo
Vivo no ermo, dês que parti.”

“Câmara”

“Numa saudade
Que punge e mata
Que sorte ingrata! (*)
Longe de ti.

“Em um suspiro
Triste e sem têrmo (**)
Vivo no êrmo (**)
Dês que nasci.”

(*) notem a falta de pontuação
(**) erros de acentuação, em desacordo com a lei 5.765, do Congresso Nacional, de 18.12.1971 e também mais erros de pontuação.

Percebam que já nesta primeira estrofe as mudanças ocorridas foram gritantes: primeiro desapareceram os travessões, que separavam o vocativo – que sorte ingrata! – e também a vírgula. Depois o que era “dês que parti”, passou a ser “dês que nasci” O Poeta jamais cometeria tal erro. Como poderia viver no ermo “dês que nasci?” Óbvio que ele escreveu “dês que parti”, pois somente ele passou a se sentir no ermo após “partir”, e não após “nascer”.

Após esta estrofe segue o refrão, largamente cantando, mais uma vez de forma errada. Em “Carrilhões” vem desta forma:


“Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores,
Cheia de encanto...
Ninguém compreende a grande dor que sente
O filho ausente a suspirar por ti!”

na cópia da “Câmara”:

“Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores,
Cheia de encantos...
Ninguém compreende a grande dor

Que sente

Um filho ausente a suspirar por ti!”

O primeiro erro ocorre na rima TANTO E ENCANTO, que passou a ser TANTO E ENCANTOS. Um S que pluralizou o adjetivo, e tornou a rima imperfeita. Newton Mello jamais faria isso.

Depois o verso decassílabo:

“Ninguém compreende a grande dor que sente”

pentâmetro iâmbico duplamente cesurado com cesuras nas 2a. 4a. 6a. 8a e 10a. sílabas, puro artesanato, pura inspiração de um Poeta de raça, passou a ser assim:

“Ninguém compreende a grande dor
Que sente”

Um verso octassílabo e outro verso dissílabo.

Depois ainda

O filho ausente” passou a ser “Um filho ausente”

aí no “o” filho ausente, o poeta se referia a ele próprio, já que o “o” é artigo definido masculino singular.  “Um filho ausente” poderia ser qualquer um de nós. E o Poeta não estava fazendo tal referência quando compôs seu belíssimo hino/canção.

Na segunda estrofe da canção, em “Carrilhões” vem desta maneira:

“Em outras plagas, que vale a sorte?
Prefiro a morte junto de ti.
Amo teus prados, os horizontes,
O céu e os montes que vejo aqui.”

Bem, aí acontece um colapso total, pois na letra oficializada pela Câmara de nossa cidade, esta vem a ser a terceira estrofe, não a segunda. Total desrespeito para com o Poeta. Mas vamos analisar apenas o original e a cópia. E na cópia vem assim grafada:

“Em outras plagas
O que vale a sorte?
Prefiro a morte
Junto de ti...

“Adoro os prados,
Os horizontes,
A Terra e os montes (*)
Donde eu nasci.”

(*) de outra versão há esta “pérola”:

“O céu e os montes que vejo ali (sic)

Ainda existe esta outra versão:

“Em outras plagas o que vale a sorte
Prefiro a morte junto de ti
Adoro os prados os horizontes
As serras e os montes onde nasci”.

Piracicaba não possui serras e ainda o verso torna mais quebrado, sem referência adequada quanto a cesuras. Esta cópia foi publicada no Diário de Piracicaba. A cópia não traz a data. A acentuação é inexistente e em muitos casos totalmente errada.

Aí aparece o famoso “o”, que faz deixar o verso eneassílabo um errado decassílabo. Tal artigo não existe. O Poeta esta fazendo uma pergunta: “Em outras plagas, que vale a sorte?” perfeito, correto, tanto poeticamente como gramaticalmente.

Depois “amo teus prados” passou a ser “adoro os prados”, ao “os horizontes” surgiu um estranho “a Terra e os montes” e “as serras e os montes”, ao que era “que vejo aqui”, passou a ser “donde eu nasci”. Percebem quantos erros? O pior é que as pessoas cantam e cantam erradamente. Não percebem as distorções. Após vem a terceira estrofe, que na letra da Câmara vem de forma invertida e também com erros. Em “Carrilhões” vem assim:

“Só vejo estranho, meu berço amado,
Tendo a teu lado o que perdi...
Pouco se importam com teu encanto
Que eu amo tanto, dês que nasci...”

Na Câmara: 

“Só vejo estranhos

Meu berço amado,
Ter ao seu lado
O que eu perdi...

“Poucos se importam
Com teus encantos,
Que eu amo tanto
Dês que nasci...”

O “tendo a teu lado o que perdi”, passou a ser “ter ao seu lado o que eu perdi...” Aí já acontece erro de concordância gramatical, pois os “estranhos meu berço amado” só poderiam “terem ao seu lado”. Ainda “teu” com “seu”, depois vem o pronome “eu”, inexistente no original, que aparece na letra da “Câmara”, fora ainda o “tendo” e a forma “ter”...

Depois o Poeta grava acertadamente “pouco se importam”, que ele quis dizer que as pessoas “pouco” se importam e não que “poucos se importam”. Não são os poucos presentes que se importam, porém quem esta presente. O pronome, embora supresso (eles) “pouco se importam...” Ainda existe o plural de “encanto”, que passa a ser “encantos”, numa rima quebrada que o Poeta não ousaria fazer. Depois ainda “o que eu perdi...” passa a ser “dês que nasci...”

Tenho ainda em mãos uma cópia digitada com um adendo a mão e sem assinatura onde vem escrito: “letra correta, gravada por Inesita Barroso, em 1962, e autorizada pelo próprio Newton”. Mas vários erros fazem-se acontecer de acentuação, falta de vírgulas, travessões, exclamações. Já no terceiro verso da primeira estrofe vem gravado “como um suspiro triste e sem termo,”. Oras, “como um suspiro” não tem nada a ver.  Além de ser feio é antipoético. O Poeta não estava “comendo um suspiro...” (sic). “Em um suspiro...” além de estar correto, é muito mais poético. Já no refrão ocorre o seguinte erro: 

“Piracicaba que eu adoro tanto:
Cheia de flores, cheia de encantos
Ninguém compreende a grande dor que sente
Um filho ausente a suspirar por ti

ENCANTOS vem (de novo) erradamente no plural e quebra a rima com TANTO.

Os versos “Cheia de flores” e “cheia de encanto” unidos, foram um versos eneassílabo e fica fora dos cânones poéticos, com cesuras inadequadas: na 1a., 4a. 6a. e 9a. sílabas. Aos versos decassílabos, que são os outros três versos do estribilho, o poeta fez dois versos quadrissílabos perfeitos e aceitáveis. Depois vem novamente “Um filho ausente” e não “o filho ausente”. Mais uma vez repetimos: o Poeta falava de si próprio e não de qualquer filho, que aí sim seria “um filho ausente...” Caso de sujeito indeterminado. Mas neste caso era “o” filho ausente, ele próprio.

Depois na última estrofe nos dois versos finais, novamente os erros:

“Poucos se importam com teus encantos
Que eu amo tanto dês que nasci”

Tenho também em mãos a página inicial da Prefeitura de Piracicaba, datada de 08.08.2002. Na primeira estrofe falta, no segundo verso, o travessão inicial, e é o único senão. Também na contracapa do livro “Retrato das Tradições Piracicabanas”, de Hugo Pedro Carradore, há somente esta falha. Em ambos os casos a letra está CORRETA! Já num xerox de partitura para acordeon, de Rozany M. de Barros, e com autógrafo de Newton de Almeida Mello, para Luzia, no terceiro verso da primeira estrofe vem grafado:

“Que um suspiro triste e sem termo” ao invés de “Em um suspiro triste e sem termo...”

o que em tese deixaria o verso octassílabo, mas com cesura errada na 3a., 5a. e 8a. sílabas, já que haveria uma ditongação entre os vocábulos “que um” que seriam pronunciados “queum”.

Ainda também consulto uma outra letra da canção, esta vinda através da Secretaria de Ação Cultural em homenagem ao seresteiro Victorio Ângelo Cobra. Fôssemos enumerar as diferenças e teríamos uma nova letra a ser sobreposta.

Já ouvi várias vezes em disco, ou em épocas passadas, ao vivo, o saudoso Cobrinha cantando “Piracicaba”. Como ele a gravou em todos os seus Lps, para cada gravação adicionava ou suprimia, ou criava alguma nova palavra... É dele o “em outras plagas ‘o’ que vale a sorte?” Afinal ele era cantor, não compositor, por isso passava-lhe despercebidamente tal detalhe. Também ouvi Rolando Boldrin, César e Paulinho, Craveiro e Cravinho e todos cantam erradamente o hino/canção de nossa cidade.

Mas isto já pouco importa. Importa, sim, que a Câmara de Vereadores de nossa cidade tome a máxima urgência e faça uma revisão ao que foi outrora feito de supetão, dia 30 de dezembro de 1988, último dia útil de um mandato, e tome as devidas providências para que tão linda canção, feita por um dos mais inspirados Poetas de Piracicaba, possa ser cantada acertadamente de hoje em diante... ou que pelo menos no papel ela seja correta...

Ainda existem correndo pela cidade, com certeza, outras publicações e com certeza muitos textos fantasmas e apócrifos. Se até o próprio Hino Nacional Brasileiro cuja letra aparece em vídeo na Câmara de Vereadores traz imperfeições, como “ó lábaro que ostentas estrelado...” trocando o artigo definido masculino singular “o” por um exclamativo “ó”, nada mais podemos dizer sobre esta canção (tão linda) com tantas aberrações.

Para completar copio o texto que penso estar correto, pois está compilado em “Carrilhões”. Tal livro foi publicado em vida e com revisão do Poeta, portanto da forma que lhe pareceu ser correta... E com certeza, era a forma correta! 

PIRACICABA

Numa saudade que punge e mata
– Que sorte ingrata! – longe daqui,
Em um suspiro triste e sem termo
Vivo no ermo, dês que parti.

Estribilho

Piracicaba que eu adoro tanto,
Cheia de flores,
Cheia de encanto...
Ninguém compreende a grande dor que sente
O filho ausente a suspirar por ti!

Em outras plagas, que vale a sorte?
Prefiro a morte junto de ti.
Amo teus prados, os horizontes,
O céu e os montes que vejo aqui.

Só vejo estranhos, meu berço amado,
Tendo a teu lado o que perdi...
Pouco se importam com teu encanto
Que eu amo tanto, dês que nasci...

Carrilhões, página 35
1a. Edição, 1957

0 COMENTE AQUI:

Minha Ana Maria e Sissi

Apresentação Poema "O Evangelho Segundo Judas Ish-Kiriot" Loja Maçônica Acácia Barbarense

ARQUIVO

PESQUISAR ESTE BLOG

..

ADMINISTRADORES