A palavra está quebrada
O pincel – feito caneta
Já não consegue moldá-la
Digito meu nome em códigos
Escrevo torto nas pautas
Desenho através de enigmas
As letras estão em forma
Falta decodificá-las
E o teclado é analfabeto
Esta morte antecipada
É a agonia da palavra
Que não sabe traduzir-se
Caminha já não registra
Para El-Rei de Portugal
As glórias da nova Terra
Einstein faz o seu brinquedo
De maneira relativa
Somente através de números
Camões desenha epopéias
Em versos de oitavas rimas
De maneira quase heróica
Pessoa confunde nomes
E se perde em heterônimos
Pelas ruas de Lisboa
Edson põe voz à Palavra
Em ondas médias e curtas
Em ruídos e chiados
Chateaubriant convoca a imagem
Que já despreza a palavra
Em atos sujos e obscenos
Chaplin anda no silêncio
E através de rudes gestos
Consegue comunicar-se
O cego em linguagem Braille
Faz o seu som de silêncio
Na digital de seus dedos
O Dicionário fechado
Num eterno embolorar-se
É banquete para as traças
A Palavra fica oculta
Pelos tetos da Sistina
Em cores luzes e sons
Da Vinci no seu silêncio
Traduz por meio de sombras
A Palavra do sorriso
E o poeta ainda canta
Mas até a voz é morta
– Não ressuscita a Palavra!
25.02.2000
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