(Este poema de 1983 é uma lembrança do poema do mesmo título do grande Poeta Castro Alves. Apropriei-me do texto de Isaías, que também encima o poema como o verso final de algumas estrofes. O poema original é simplesmente lindo. O meu uma cópia mal feita. Vale o esforço apenas. Também muitos alexandrinos são irregulares mas isso não invalida o poema. Esio)
(Virá o dia da
felicidade e Justiça para todos.)
Isaías
(E o vácuo se povoa
de tua sombra, oh, Deus!)
Castro
Alves
Às
vezes, quando sinto a alma de amores cheia,
Uma
canção de Amor meu coração anseia
Em
cantar, e na luz desta visão sagrada
Caminho
– à luz do sol, ou densa madrugada
Para
encontrar o Altar da enorme Natureza
E
rezar a canção de singular beleza:
–
“Senhor! Ao ver que Tu – Santo, Poeta, Artista,
Com
os dedos de luz, na forma de alquimista
Criaste
com fervor labirintos, entranhas,
Mares,
rios e céus, precipícios, montanhas,
Aves
voando no ar, animais pela terra
E
nas águas, e a luz que pelo Universo erra
E
as árvores olhando os céus em uma crença
Lembrando
exclamações da forma oculta e intensa,
No
chão, ajoelhado e olho para os Céus,
E
o vácuo se povoa de tua sombra, oh, Deus!”
Eu
vejo os campos onde o Homem colhe o que planta
E
novamente eu sinto haurir-me na garganta
Teu
imenso Poder: vales férteis de trigo
Para
o Homem preparar o pão sagrado e amigo!
Pomares,
cafezais, aveia, milho, cana,
Arroz,
feijão, batata e em força soberana
O
rude lavrador que, resignado aceita
Os
milagres de Deus para a nova colheita!
Vejo
gados no pasto e em novas esperanças
Talhas
de leite para amamentar crianças!
Vejo
ovelhas coma lã que aplacam nosso frio
E
nos teares velho a vida além de um fio...
Com
os olhos descubro em amoreiras densas,
Bichos
da seda e nos casulos as imensas
Larvas,
que vão ficando aos poucos, inquietas,
Até
se transformarem em lindas borboletas...
Mais
além, um zumbido e o enxame das abelhas
Que
à procura do mel, beijam bocas vermelhas.
Novamente
ajoelho e vejo a Terra e os Céus
E
o vácuo povoado de tua sombra, oh, Deus!
Depois
descanso o olhar – creio que não existe
Penso,
motivo algum para se viver triste...
Em
tudo as mãos de Deus estão presentes, tudo
Vibra
num dom de Amor, então eu fico mudo
E
após começo a trabalhar com o pensamento
E
impávido a mim vem um terrível tormento: –
O
Homem que Deus criou à Sua semelhança
Constantemente
brada um grito de Vingança,
E
tudo, num pavor, num desespero infindo
Macabramente
e horrivelmente a mim vem vindo!
Guerras,
destruições, crimes, assassinatos,
Surgem-me
num teatro onde os nefandos atos
São
cheios de terror, são cheios de cobiça,
E
o perfume do Amor, transforma-se em carniça!
Desesperos
fatais, sepulturas sem nome,
Crianças
a chorar estão passando fome
E
ao redor dos canhões fazem suas cirandas
E
se esquecem das belas e fantásticas bandas
E
as estradas de flores morrem e ficam feias,
Pois
os homens, ali, tramam negras ideias
Com
o pensamento preso às mortes, às torturas,
E
cavam com as mãos, as próprias sepulturas.
Senhor!
Vendo nos céus aviões e foguetes
E
na terra os fatais e negros aríetes
Devastando
com fúrias a Natureza, eu sinto
Que
em cada coração o Amor está extinto...
Não
mais existirá o afeto meigo e puro
Nem
mesmo existirá, para nós, um futuro
Onde
a Esperança e a Paz sejam cantos sublimes
Pois
os Homens estão presos a negros crimes,
A
crimes sem perdão e todos condenados
Hão
de seguir ao fogo eterno e massacrados
Hão
de gemer, gritar e clamar a Esperança,
Mas
o eco tão somente irá gritar – Vingança!
Vingança,
irão clamas todos os oprimidos,
Os
duendes da guerra, os soldados vencidos
Pela
dor, pela fome e a ausência de carinhos,
Pois
nos vales da dor estiveram sozinhos
Lutando
pela vida e pelos seus direitos
Que
os Homens do Poder tiraram com proveitos!
Tudo
desolação, desesperança imensa,
Mais
ainda resta em tudo uma pequena crença
Que
o Homem irá mudar seus instintos de guerra;
E
em plena Paz
e amor viverão nesta Terra!
Os
campos voltarão a florescer, quem dera!
Após
passar o Inverno e vir a Primavera!
Nos
céus, as aves soltarão cantos sagrados,
E
os homens, para ouvi-las, estarão ajoelhados;
A
fartura estará presente em toda a mesa,
Porque
assim reza a Lei da Santa Natureza;
Os
imensos quartéis servirão para Escolas,
Também
não haverá ninguém pedindo esmolas;
Os
museus guardarão fuzis, metralhadoras,
E
os tiros ecoarão para anunciar auroras;
As
mulheres serão esteios aos maridos,
Quando
eles, do trabalho, voltarem deprimidos;
As
famílias terão seus filhos e raízes,
E
não existirão as tristes meretrizes;
As
grávidas terão seus filhos e seus peitos
Irão
dar de mamar com todos os direitos;
Os
hospitais irão curar sem cobrar nada,
Pois
a Irmandade em Deus irá ser respeitada;
Todo
médico irá, em consultas à noite,
Mesmo
que a chuva caia e o vento em rijo açoite;
As
cadeias terão suas portas abertas,
Pois
elas, de ladrões, irão estar desertas;
Todos
irão viver pela Fraternidade
E
juntos, vão gozar mares de Liberdade;
As
Igrejas irão estar sempre repletas
E
nas Praças irão declamar os Poetas
Os
seus cantos de Amor, de Paz e de Esperança
Quando
virem, a rir, uma doce criança!
As
casas não terão mais grades nas janelas
Para
que as trepadeiras possam entrar por elas!
Os
jardins estarão sempre lindos, floridos,
E
os ipês deixarão canteiros coloridos;
Também
não haverá gaiolas para as aves,
Pois
aos bandos irão, em cânticos suaves,
E
sem medo de tiros, brincar com as crianças,
Pois
o mundo será de Eternas Esperanças!
Não
haverá no Céu troares de trombetas,
Muito
menos na Terra, envenenadas setas;
E
todos, de joelhos, numa oblação imensa,
Em
nome do Senhor farão sublime crença!
Enfim
a Terra irá viver livre, liberta,
E
a paisagem da guerra será toda encoberta;
Fachos
de luz virão iluminar o mundo
E
eu após tanta luta irei, num dom profundo,
Com
a voz num turbilhão, rasgar a Terra e os Céus,
E
o vácuo povoado de tua sombra, oh, Deus!
22.04.1983
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