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6 de abril de 2013

Alma da Palavra




  

Alma da Palavra




                 Sonetos de Esio Antonio Pezzato

Piracicaba, 2011


 pEQUENO comentário


Quando me ponho a escrever, dificilmente existe um fim pré-estabelecido. O que às vezes parece ser uma ideia simples e um soneto apenas seria suficiente, e assim que termino o primeiro soneto acontece de uma nova ideia surgir e encadeado a esse primeiro soneto surge um segundo um terceiro e se não dou um basta a coisa vai se prolongando de forma infinita.
Foi assim com a Alma da Palavra, esta pequena coleção de 46 sonetos. Quando o resultado final já me agradava e coloquei um livro boa parte deles, (Ofício do Silêncio) depois do livro publicado vi que alguns ficaram fora, pois eu sequer sabia havê-los composto. E depois ainda fiz outros sobre o mesmo tema e agora o resultado final está aqui, neste pequeno e despretensioso volume.
Quem sabe um dia essa pequena aspiração se transforme num livro editado...

Esio Antonio Pezzato


  
Alma da Palavra


Sonetos

  
  
                       I

         Das Palavras confesso-me um intruso,
Pois todas elas trazem seu segredo
Que às vezes deixam o homem no degredo
Quando faladas com maléfico uso.

Usando-as para o mal causam abuso
E proferidas vêm provar o medo.
Por vezes deixam o sentido azedo
Se para atalhos a dizer conduzo.

 Eis a Palavra sorrateira, fria,
Condutora de enganos e agonia,
Que trago preso dentro da algibeira.

Eis a Palavra que profana tudo!
E é preferível ter papel de mudo
Que fazê-la de nossa prisioneira!

03.07.2002
  
II
  
Eis a Palavra, e ela se mostra fria,
Quando verbete em velho dicionário.
Porém, falada, envolve-se em magia,
Tomada de vigor extraordinário.

Transmuda-se feroz nesta alquimia
Sai do apogeu ao fúnebre Calvário!
Vigorosa, fatal, densa, vazia,
Eis a Palavra em seu itinerário!

São sete letras – fortes como o aço!
Três vocálicos sons – no estardalhaço
Ferem e matam, dão Poder e Glória!

De tudo o que se pensa e se escalavra
Resta somente, a pálida Palavra,
Para contar o que ficou na História!

04.07.2002

III


A Palavra é uma faca pontiaguda
Pronta para atacar, para a defesa,
Arma que fere a própria natureza
Que aos ataques profanos fica muda.

Pode, às vezes, conter fulgor, leveza,
Mas num instante apenas – se transmuda.
E se torna feroz, ferina, aguda,
Carregada de babas na vileza.

Da Palavra provém meu artifício,
Com ela moldo a rima, moldo o verso,
E com estrofes urdo um edifício.

Dobo com ela o instante mais perverso,
E a Inspiração que a tantos é suplício,
É a Razão para mim neste Universo!

04.07.2002

 



IV


  
A palavra me faz mordaz e forte,
Com ela suo em gotas de veneno.
E as almas sorrateiras eu gangreno,
Prendo, julgo, condeno e induzo à morte.

A Palavra conduz a minha sorte.
Crio versos de amor com tom ameno.
Teço a Lira, urdo o Som calmo e sereno
Para indicar o mais provável Norte.
  
A Palavra está pronta para usá-la!
Se às vezes a comparo a fina seta,
Da minh’alma ela, faz a sua sala.

Assim minha razão torna completa:
Se calada a Palavra vibra e fala,
No Ofício do Silêncio – sou Poeta.

04.07.2002


V
  
Sonho contigo no escaldar das horas
Que passo solitário em desvendar-te.
Bailas no espaço com um estandarte
A tremular impávida... E me ignoras.
 Decifro-te os enigmas – parte a parte
E tornas-te crepúsculos e auroras,
Assim quanto mais forte tu clangoras,
Mais sinto o peso crucial destarte.
  
Oh! Mistério infernal que me crucia,
Vejo-te fulgurante e brilhas tanto,
E não consigo traduzir-te a lavra.

Abstenho-me de abrir esta magia,
E de maneira mórbida este canto
Fica frente ao mistério da Palavra.

04.07.2002

   VI

  
Dentro dos livros a palavra é morta
E não produz sabedoria alguma.
Porém, se alguém abrir do livro a porta,
Irá vê-la fervendo em densa espuma.

A exóticos países nos transporta
Em cavalos alados de alva bruma.
Forte e firme abre os diques da comporta,
E mostra pérolas de luz, uma a uma.
  
Porém, dentro dos livros a Palavra,
Fria e extática lembra tão-somente
O ouro da mina que não teve lavra.

Mas se lábios em sons derem-lhe Vida,
Quente e ofegante ela será polida
E deixará de ser simples semente!

04.07.2002
  

VII



A Palavra em seu som é a densa lava
Que o vulcão regurgita em sua fúria.
Ríspida, a alma se torna dela escrava,
E deixa dos afetos – negra injúria.

O tesouro reduz-se à ampla penúria
E à Liberdade, o belo sonho trava...
Eis a Palavra e a tempestade espúria
Que nas rochas mais duras bate e cava.
  
Seus segredos não dizem os mais sábios,
Pois quando chega no tremer dos lábios
Torna-se labareda que extermina.

Em silêncio, porém, parece morta,
Mas quando bate em guizos sua porta,
Mostra todo o fulgor que lha domina.

05.07.2002


VIII
  
Busco ater-me ao axioma da Palavra
E da maneira que ela vem escrita.
Em ânsias a minh’alma se escalavra
Num transe de maneira ultra-esquisita.

É vão o ofício, perco o tempo à lavra.
A busca de vocábulo é infinita.
O papel de bolores se azinhavra
Com desesperos minha fala grita.
  
 Tantos fizeram esta vã batalha,
Buscando derrotá-la em luta inglória,
E a todos, ela impôs infausta falha.

Hoje retenho apenas na memória:
O seu fio cortante de navalha
Que decepa cabeças na vitória!

05.11.2002

                             IX



Bebo a Palavra na mais fina taça
Que às vezes de veneno me vem cheia.
Bebo-a de um gole só, tal como a idéia,
Que num repente chega e logo passa.

Faço com a Palavra uma Epopéia
E ponho-a em livros ao furor da traça;
Depois crio artimanhas, crio a ameaça
E prendo-a forte dentro da colméia.















Sangro a Palavra e bebo-lhe a fuligem,
Procuro decifrar a sua origem
E seu segredo de maneira clara.

Mas quanto mais procuro em minha lavra
Descobrir o segredo da Palavra,
Ela se mostra sorrateira e rara.

05.11.2002

                                 X
  
A Palavra é minha arma no combate,
É minh’alma que sangra enquanto luta.
Com tentáculos de aço, é um alicate,
Que golpeia na fúria da disputa.

Raivosa, às vezes, como um cão que late,
Estraçalha com verbos e executa.
Abre imensos salões em atra gruta,
Depois faz rendilhados, no arremate.
  
Sangro com ela na batalha imensa!
Por ela suo estrofes e poemas,
Dela tiro em soluços, minha crença.

É alma que pulsa em mim e dá-me Vida:
Dá-me paixões e glórias tão supremas,
Que percebo sequer a alma ferida.

05.11.2002
  
XI
  
A Palavra é meu cárcere diário:
A ela estou preso com fatais algemas.
É minha cruz nos passos do Calvário,
É minha luz nas glórias mais supremas!

Com ela teço o longo itinerário
Para seguir as vastidões extremas.
É treva ao longo do caminho vário,
E claridade para as minhas gemas!

Dia após dia, instante após instante,
Sei-me dela um profano prisioneiro
E sou cruel, feroz, e doce amante.

Se busco defini-la, atroz se ofusca,
Depois brilha no céu como luzeiro
E jamais tem final a minha busca.

05.11.2002

                XII
  
Se tento definir tua presença
Dizes que nada dizes, nada dizes.
Mas plantas na minh’alma cicatrizes,
Partes depois em plena indiferença.

E voltas novamente sem reprises
Embaralhando em cartas minha crença.
Retornas gorda – com vontade imensa,
E, magra, voltas para as minhas crises.

  Quem te moldou primeiro o som metálico
Te desenhando as arabescas formas,
– Signos e hieróglifos, Pedra Roseta,

Premiu-te a Vida com seu gesto fálico,
E, deu ao Mundo as incontáveis normas,
Foi mais que gênio – foi um deus asceta!

05.11.2002

XIII


À Palavra estou preso como um ímã:
Sete tentáculos são suas garras.
Oh, Palavra! Tu prendes-me e me agarras
E nesta lavra teço a minha rima.

Aos meus ouvidos vens como as fanfarras
Com seus toques marciais de forma opima.
Não há revolução que me redima
Quando a combates tensos tu me amarras.

 Suprema evolução da língua aflita!
Em silêncio minh’alma clama e grita
E explode em labirintos de loucura.

Tens a fúria total dos elementos:
Águas e terras, fogos e ímpios ventos,
Moldam-te cristalina, doce, pura.

05.11.2002

  
XIV
  
Quero a Palavra que se mostra nua,
No alicerce de enormes edifícios.
Desbastada de dogmas e artifícios
Para domá-la no labor que estua.

Quero a Palavra de maneira crua,
Sem ranços de modismos e suplícios.
Que traga na raiz fartos ofícios
E que perfure fundo, como a pua.
  
A Palavra no verbo mais sublime,
Pura e ardilosa, sem razão no crime,
Carregada de idéias para usá-la

Na razão do sentido mais completa.
Só assim poderei ser um Poeta
Que será compreendido em sua fala.

06.11.2002
  
XV
  
A palavra afiada é como a faca
Pronta para ferir, para furar.
Em língua mole lembra uma matraca
Feita para agredir, para atacar.

Encarreirada em frases ela ataca
Podendo denegrir e derrubar.
Outras, vezes, em forma de catraca,
Somente o que convém, deixa passar...

 Fortuita, às vezes, vive pelo acaso.
Espalha-se em diabruras e gorjeios,
E se transforma em flores no jardim.

Lembra depois um já quebrado vaso,
Para também, justificar os meios,
Pondo um ponto final, chega ao seu fim.

06.11.2002

XVI
  
Domo o vocábulo, aprisiono o idioma,
Retenho a idéia e o pensamento abstrato.
Depois solto pelo ar, ao livre olfato,
Para as mentes prendê-los em redoma.

Que as pessoas o sintam como aroma
Que exala após a chuva o agreste mato.
E prendam à retina igual retrato
De uma paisagem que fulgor assoma.

Que o entendimento sem labuta e engenho
Traga canções de amor e de ternura
Junto à alegria imensa de um desenho

Que uma criança faz presa à inocência:
Mas que sua mensagem seja pura
E retenha os segredos da ciência.

07.11.2002

  
XVII

 A Palavra é a metáfora do medo
Que me apavora e tanto me entorpece,
Que não distingo nunca o seu segredo:
Se, profana ou se diz sagrada prece.

A Palavra povoa a minha messe:
Dá fruto às vezes de sabor azedo.
Outras horas em sonhos, me aparece
E diz verdade em frases de brinquedo.

 Quem busca definir seu conteúdo
Perde uma vida inteira em vão estudo
Que ela é a Verdade cheia de Mentira.

Engano da certeza e ao nada leva,
Profano à Natureza é luz e neva,
É água às vezes que fogo põe à pira.

05.11.2002

                                  XVIII
  
A Palavra é mordaz, é sorrateira,
É cheia de artefato e de segredo.
Se por vezes é frígida e traiçoeira,
E nessas horas causa pena e medo,

Outras vezes se torna alvissareira
E livra alma inocente do degredo.
Mas pode ser cruel, fatal, certeira,
E pode às vezes, ter sabor azedo.
  
Nesse vai-vem frenético e constante
Às vezes soa impávida e robusta
E pode ser Mentira e ser Verdade.

Mas ao dizê-la em seu raiar de instante,
Sejamos nós a sua fonte justa
Engrandecendo-a em toda Humanidade.

10.07.2002

XIX


Ferve o cérebro, há forte ebulição.
Idéias congestionam-se nervosas.
Há um bulício de pétalas de rosas,
Parece vomitar voraz vulcão.

O corpo treme, é enorme a sensação.
Sinto forças de fogo poderosas!
Brilham estrelas, há maravilhosas
Explosões; sinto o corpo alçar-se ao chão.

É um silêncio que grita a céu aberto,
Tempestades de areia no deserto,
Maremoto fremente de ardentias.

As Palavras me chegam de mansinho,
Afago-as ainda dentro de seu ninho
E agrupadas, transformo-as em Poesias.

07.01.2002


XX

  

Ferve a Palavra e de maneira fria
E calculista domo-a em seu furor.
Na caldeira do Sonho e da Magia
Há volúpia que vibra em estupor.

Asas incandescentes ela cria
E voa no Infinito em fúria e horror.
Volta depois, e paira na Poesia
E faz-me declamar versos de Amor.

A Palavra, porém, paira indomável.
E quanto mais lhe tento ser amável,
Em labirintos de silêncios, ela,

De maneira voraz foge e se entreva.
E em sua busca insana eis que me leva
Aos abismos profundos da procela.

13.01.2003

  

XXI


  
A Palavra se torna incandescente
Quando a ponho em meus versos, com desvelo.
E vou criando em transes, um novelo
De carinho e de amor em minha mente.

A Palavra me vem como semente:
Planto-a em meu coração com terno zelo.
Colho-a em fruto depois de forte apelo,
Na forma da verdade reluzente.

A Palavra é meu culto, e forte, e viva,
Faz minh’alma brilhar nela cativa,
Faz o meu coração pulsar mais forte.

Neste elo de paixão e amor eterno,
A Palavra é meu céu e meu inferno,
E eterna Vida após a breve Morte.

13.01.2003
              


XXII

  
A Palavra contém sons e segredos
Tem enigmas recheados de mistérios.
Muitas vezes, conduz para degredos,
Em outras vezes, para cemitérios.

Deixam os sonhos de prazer azedos
E sorrisos nos lábios ficam sérios.
Traumas, delírios, desesperos, medos,
E falta de atitudes e critérios.
  
A Palavra é mordaz, solene, forte,
Em seus delírios, desvairada impera,
Sabendo conduzir a Vida e a Morte.

Oculta-se nas ramas da tapera,
Em seu azar transmuda a sua sorte,
Em seu imenso brilho – em primavera.

22.04.2003


XXIII


  
A Palavra fulgura em minha mente
Depois valseia como brisa leve.
E cai no chão, transforma-se em semente,
E vai brotando de maneira breve.

Rompe as paredes frígidas de neve
E se transmuda em lava efervescente.
Chega às mãos que em desenhos a descreve
Passando a ser mensagem num repente.
  
No correr dos delírios dos minutos,
Freme em folhas e flores, fulge em frutos,
E cascateia em versos de prazer.

A Palavra na força que me doma
Faz-me invencível gladiador de Roma
No intrépido desejo de vencer!

23.04.2003
  

XXIV



Posta à língua a Palavra é pura brasa
Que espíritos e sombras incendeia.
Porém, com ela teço lírica asa,
Para alcançar o sol e a lua cheia.

Resplendor de ilusão é minha casa.
Sobre a mesa a Palavra é minha ceia.
Após é desespero que me arrasa
Armadilha tramada em tênue teia.

 Sou voraz à perfídia que me doma,
A solidão da noite é-me loucura,
E a alma na insanidade atroz assoma.

Confundo idéias de maneira impura,
E como os Césares da antiga Roma
Encontro enfim a minha sepultura.

23.04.2003



XXV


 A língua lambe o cerne da Palavra
Sentindo seu sabor amargo e doce.
E dentro da minh’alma queima e lavra
Como se em combustão um ferro fosse.

No silêncio eis que tímida azinhavra
E se transforma num medonho alcouce.
Por isso sou amiga da Palavra
Que desenhos arábicos me trouxe.

Qual fiel escudeiro – olhar de lince,
Domo-a aos tentáculos de cinco dedos
Para que suas letras eu as pince.

E sem traumas domar os seus segredos,
Para me retratar como Da Vinci,
Com o sangue de todos os meus medos.

23.04.2003

  

XXVI


  
As Palavras são mágicas, traiçoeiras,
Agem como profanas armadilhas.
Iludem nas felizes brincadeiras,
Depois conduzem às mais falsas trilhas.

As Palavras inventam maravilhas,
Fábulas ou histórias verdadeiras.
Mas provocam ataques de matilhas
E atiram flechas finas e certeiras.
  
As Palavras induzem comandados.
Perfilam homens rudes e sombrios
Impondo ânimos, força de vontade.

E há de deixar os sonhos exilados.
Os dias de calor pálidos, frios,
Até que se extermine a Humanidade.

24.06.2003
  

XXVII
  

Palavras são segredos – e com elas
Construo pensamento num desenho.
Vindo às bocas se tornam tagarelas
E no silêncio penso nesse engenho.

Escritas ou faladas são procelas.
Vendo-as com os olhos, preso me mantenho.
Contudo expostas são profanas telas,
Mostrando liberdade ou duro lenho.

  Para escrevê-las – somos desenhistas,
Nem por isso, porém, somos artistas,
Sabendo traduzir o pensamento.

As Palavras, porém, são passageiras,
Passam com rapidez, voam ligeiras,
Se desfazendo no valsar do vento.

27.06.2003

  

XXVIII
  

A Palavra não pode ser domada
Pois à fera é impossível obediência.
Se por instantes sente-se enjaulada,
Não há grade que tenha resistência.

Rasga as vísceras, rompe a madrugada,
Deixa restos de sangue na consciência.
Cavalga pela noite alucinada
Cintilando no céu da persistência.

 A Palavra fulgura cristalina.
Doma corcéis, atinge a alta colina,
E atira-se no largo precipício.

Espírito de fogo, eis a Palavra,
Que, coração de pedra atro escalavra,
E, mente pura prende em ímpio hospício.

22.07.2003








XXIX



A Palavra é a mais límpida expressão
Para deixar gravada a nossa história.
Poder brutal de manifestação,
Tempestade de fogo na memória.

É o fio condutor de toda a glória
E é terror, exorcismo e combustão.
Fogo feroz, derrota merencória,
Engenhos, teares e revolução.

No estado líquido do Dicionário
É vocábulo inerte que se apresta
Para mostrar apenas o que diz.

Porém, articulada em seu fadário,
Na língua do homem vibra e manifesta
E estampa sua enorme cicatriz.

20.01.2004


XXX

 As Palavras lançadas céu aberto,
– Fosforescentes fogos de artifício –
Às vezes são pregadas no deserto
Ou no altar de profano sacrifício.

Dominar as Palavras – duro ofício
Para quem traça em luz um rumo certo! –
Porém, quem a usa para o malefício,
Sempre há de estar para o pavor – desperto.

 r isso em Eras, minhas heras planto.
A chama da verdade que me chama
É vão num vão da noite sempre vão.

Em cada canto existe sempre um canto,
O drama da consciência odiento trama
Num desvão aonde errantes sempre vão...

14.01.2004

XXXI


 As Palavras são fogos de artifício
Que fazem rebentar a luz na treva.
E o Poeta, réu confesso em seu ofício,
Com a luminosidade ao céu se eleva.

Da Palavra, inspirado ele se ceva
E despreza o cansaço e o sacrifício.
Se faz frio ou calor, se venta ou neva,
Eis que está preso ao mágico exercício!

Escrever é reter o pensamento!
E domar o vocábulo e prendê-lo
Na cadeia fugaz da liberdade.

Pois a Palavra – etérea como o vento,
Ao mesmo tempo é sonho e pesadelo,
É Mentira vestida de Verdade.

19.01.2004
  

XXXII
  

A Palavra é hieróglifo sagrado,
Enigma de Faraós do velho Egito.
Chão da Mesopotâmia soterrado
E múmia a revolver a voz num grito.

Relâmpago de fogo não domado.
Consciência e solidão, esgar aflito,
Dos Deuses velho rosto deformado,
Eco feito silêncio no Infinito.

  Símbolo de uma antiga Humanidade,
Traduzidos em mágicos segredos,
Num oculto mistério da Verdade.

Vagas vozes veladas dos zabumbas,
As Palavras com todos os seus medos
São os ossos das velhas catacumbas.

07.08.2003

XXXIII
  

Chove Palavra pelo céu nublado.
E em enxurradas corre na sarjeta.
A grafite dos sons a deixa preta
Qual borra de café pós ser coado.

Ponho à Palavra dobras de tarjeta
Para não ver-lhe o olhar frio e indomado.
A Palavra é o delírio inanimado
Da semente que brota numa greta.

 Líquida escorre em todos os sentidos,
Parecem bailarinos acrobáticos
Saltando no ar e após caindo em pé.

Na vertical dos sonhos esquecidos
Os meus olhos contemplam-nas extáticos,
Na musicalidade dessa fé.

09.08.2003



XXXIV


  
Minha Palavra é feita de fumaça,
Baila no ar – basta apenas eu dizê-la.
Sem conteúdo ou forma, não embaça,
Também não brilha, por não ser estrela.

Eis a Palavra, mas não posso vê-la,
Pois, com o vento ao seu encalço, passa.
Assim que a falo, já não posso tê-la
E se torna ferina feita massa!
  
 Se a pronuncio, vai rodando ao vento
E na metamorfose é monumento
E vira espada para o ataque pronta.

Tem o valor da prata por tesouro,
Porém, não dita, vale o peso em ouro
E o silêncio é que em transes amedronta!

13.11.2001




XXXV
  

Quando as Palavras ferem minha mente
Provocando erupções de lodo e pus,
Delas, tento fazer um arcabuz,
Para agredir com fúria permanente.

Quando a Palavras vêm feita semente
Desabrochando em flores de áurea luz,
Desvio minhas dores, minha cruz,
E me visto de um sol incandescente.
  
As Palavras são minhas e com elas
Teço mantas douradas e de lodo
Urdo constelações e treva imensa.

E vivo em calmarias e procelas,
Com fragmentos remendo o mundo todo,
E entre impropérios junto às mãos em crença

09.12.2002


XXXVi


 Da ausência o teu silêncio n’alma grita
E fico a te buscar na voz do vento.
Oh, Palavra cruel, mordaz, maldita,
Que reboas pelo ar em movimento!

O meu vocábulo te faz restrita.
Embora te condense o pensamento.
Contudo de maneira ultra-infinita,
Na fala não consigo ter sustento.
  
Maravilha nas salas tu reboas,
No vácuo do silêncio atroz tu soas
Vigorosa e fatal, e densa e forte.

Me equilibro nos fios de teus versos,
Na ânsia de conquistar os Universos,
Tombo na terra em turbilhão de morte.

21.04.2004


XXXVIi
  

A Palavra não pode ser julgada
Simplesmente na forma que é escrita.
Antes ela precisa ser moldada
Em sua força máscula e infinita;

Quando posta na forma amalgamada,
Na folha de papel que lh’a grafita,
Fria e insensível fica inanimada
E seu sentido enorme é-lhe desdita.

A Palavra contém força suprema,
Não existe prisão a condená-la
Muito menos o ferro de ígnea algema.

A Palavra é feroz em qualquer Rito,
Nada a detém no mundo, nem a iguala,
E mesmo no silêncio é puro grito.


27.07.2004

  
XXXVIII
  

Moldo a Palavra de maneira fria,
Aquecendo-a, porém, no pensamento.
Assim crio no transe do momento,
Espasmos e volúpias de alquimia.

Solto-a depois junto ao valsar do vento
E ela dança e sem freios rodopia.
Enche de cantos a amplidão vazia,
Depois entra num quarto de convento.

 Faz orações de fogo e de mormaço,
E frágil passa a ter seus nervos de aço
É rocha dura que no campo medra.

Eis a Palavra que em furor se mostra,
Mas se transforma em pérola num’ostra,
E para a morte se transmuda em pedra.

10.12.2002


  
XXXIX
  

A Palavra – tal fio condutor –
Condensa instante a instante o  pensamento,
Que parece voar na asa do vento
Ou na hélice vibrátil de um motor.

Às vezes, num segundo traz o horror,
E à alma traz o vagido do tormento.
Deixa, momento após de ser lamento,
Para escrever os sonhos de um amor.

A palavra, portanto, é a arma feroz,
Que pode ser escrita em folhas d’ouro
Ou ser articulada pela voz.

Vem, às vezes, selvagem como o touro,
Outras vezes, cigana vai veloz,
E mostra a falsidade de um tesouro.

21.07.2004

                                          XL
  

Teço a Palavra em teias de armadilha.
Preparo-me feroz para a batalha.
Afio-a com a textura da navalha
Para tramar a minha própria trilha.

Em atrito a Palavra geme e rilha
E rola em sinfonia pela calha.
Depois soa e é frenética metralha
E o vocábulo deixa inerte em ilha.

 Flutua leve como leve rolha,
Baila sobre a água como aérea folha
E, solta iluminura de fagulha.

Mansa, às vezes, parece doce ovelha,
Mas quando frente ao caos ela se espelha,
Solta ruídos densos de patrulha.

23.01.2003

  
              
XLI
  

A Palavra – quem dela toma conta?
Se ao vê-la fria sobre o Dicionário
Um pânico de morte me amedronta
Como posso seguir-lhe o itinerário?

A Palavra – quem dela fica tonta?
Se a usá-la em frios passos de um Calvário
O pensamento em transes se remonta
E frige em seu fulgor extraordinário?

 À Palavra é impossível ter-se afeto!
Necessita-se usar régua e compasso
E cálculos de um máximo Arquiteto.

Fria na mente, em fogo se condensa,
E a galgar os meus olhos para o espaço,
A luz se mostra em lavradia crença.

17.09.2004

                                        XLII

  
A Palavra na síntese explosiva
Tem a força da bala de canhão.
Causa furor e causa destruição,
E no silêncio reage corrosiva.

A Palavra é a cadência pura e viva.
Tem passos fortes numa evolução.
Domínio imponderado da Razão,
Espoleta de fogo, quando ativa.
  
Hecatombe do medo, eis a Palavra,
Quando o Poeta em puro êxtase a lavra,
Na picada da pura perfeição,

Transmuda a sua força viva e forte,
Traz o advento e à existência dá suporte,
Como pode servir de extrema-unção!

10.11.2006
                                 
  XLIIi
  

A Palavra é a metáfora e é com ela
Que tramo em cismas minha sinfonia.
Me abasteço de pura fantasia
E transformo-a em frenética procela.

A Palavra tem cores e na tela
Crio imagens de pura simetria.
Depois a fúria imensa me sacia
E transformo-a na chama de áurea vela.
  
A Palavra tem palpos como a aranha,
Sedosamente tece a sua teia
E com garras de fogo atroz me arranha.

No mundo do silêncio, eis a Palavra:
Quanto mais ela em fogo a alma incendeia,
Quanto mais a minh’alma em chama a lavra.

  04.02.2003

  

XLIV
  
Palavras são fragmentos e retalhos
Da ideia formulada em nossa mente.
Conduzem-nos por íngremes atalhos
Para brilhar ao sol incandescente.

Palavras são robustos espantalhos
Que afastam amizades num repente.
Mas quando soam no poder dos malhos,
Florescem a verdade forte e quente.

Palavras são desenhos que pintamos
Nos metálicos sons da tela imensa
Exposta sobre os fortes elementos.

Água, Terra, Fogo e Ar são os reclamos,
Onde fazemos nossa diária crença
E ofertamos a Deus os seus unguentos.

05.05.2010








XLV



Palavras são fragmentos de uma história
Que ainda não foi assunto de um enredo.
A palavra é, portanto na memória,
Enquanto não escrita – assaz brinquedo.

Entretanto a palavra causa medo
Embora possa ter fulgor e glória.
Se à criança a palavra é só brinquedo,
Ao poeta ela é a peça de uma história.
  
Quando escrita assemelha-se a desenho,
Porém se burilada com engenho
Transforma-se na força não domada.

Enquanto a olho tal qual uma palavra,
Em minha mente ela se agita e lavra
Os versos de uma alma apaixonada.

20.08.2010

XLVI



A palavra contém a nobre arquitetura
Polida com vigor pelo povo fenício.
Luz brilhante do sol, genealogia pura
Dos Deuses celestiais em seu nobre exercício.

À palavra, porém, inexiste escritura;
Do público domínio é desde o seu início.
Flauta doce na boca e canção que fulgura,
Porém ao Artesão que a doma, é rude ofício.

Em transes de paixão eu com as mãos a desenho,
Seus enigmas desvendo e a transformo em mensagem
Tiro-lhe o sumo bom nas moendas do engenho.

Fulgor da Humanidade é a mais preciosa gema,
Que o homem lapidou nessa sua passagem
E que em Divino dom a transformo em Poema.

27.11.2010






































  



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