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21 de agosto de 2013

Lendas




                         Lendas



                         


                           Para finalizar o mês de Agosto, de tantas tradições, deixo aqui gravado aos amigos que visitam este blog, o Canto VII de meu Poema "Os Caipiras", onde narro algumas das lendas contadas em nossa cidade. Creio que vale como lembrança neste folclórico mês agostino.
Eso



Canto VII

  
I

Piracicaba é mesmo muito mística,
E repleta de lendas e mistérios.
Embora seja uma cidade artística,
De homens inteligentes, sábios, sérios,
Ela mantém sua característica
Até dentro de nossos Cemitérios.
Um túmulo no meio do caminho
É motivo de eterno burburinho...

                       II

– “Por que este túmulo em lugar errado
Se outros estão em plena simetria?
E que defunto aqui foi enterrado?”
E logo alguém, com bela alegoria,
Conta a história de um tempo já passado
Todo ele envolto em sepulcral magia:
– “Acaso desconheces, meu compadre,
Que aconteceu quando morreu o Padre? 

                       III

– “A velha entrada da Eternal Morada
Antigamente era na Independência;
E, quando numa tarde ensolarada,
Padre Galvão com Deus foi ter audiência,                                                
Sua carcaça aqui ficou prostrada
E ninguém conseguiu, em sã consciência,
Carregar seu caixão... e foi o cúmulo!
Tiveram que erigir aí seu túmulo!

                       IV

– “Isso, compadre, já faz muitos anos
E hoje parece até que foi mentira.
Mas nos anais caipiracicabanos
Ninguém mais se arrepia, nem se admira.
A alma do Padre estava em outros planos,
– Embora fosse um’Alma bem Caipira;
Porém, a história que te conto agora,
Correu, de boca em boca, mundo afora...”

                       V

E outros túmulos fazem a visita
Obrigatória deste Cemitério...
A Maria Maniero, se cogita
Que é uma Santa... Pode ser mistério,
Crente, a população toda acredita
Em sua força e em seu poder etéreo!
– Novenas, velas, rezas, romarias,
O seu túmulo tem todos os dias...

                       VI

A lenda diz ser água milagrosa,
Outros dizem, porém, ser fantasia,
Essa história também é bem famosa
E cabe dentro desta alegoria:
De um túmulo, uma fonte misteriosa,
Verte água fresca e não se passa um dia
Que não exista ali alguém rezando,
Inquirindo, pedindo, suplicando... 
                      
VII

É o túmulo que mais contém promessas.
Centenas e centenas de chupetas
E de criança as mais variadas peças
Ali são penduradas... São roupetas,
Brinquedos, mamadeiras e compressas,
Fotografias, velhas camisetas,
O milagre em semanas acontece,
Basta fazer uma piedosa prece.

                       VIII

Pode até ser que seja fantasia,
Tudo não passe de folclore ou lenda,
O sobrenatural, porém, é o guia,
Que entre preces – o povo reverenda.
Tudo escrever em nome da heresia
É perigoso que, mais estupenda,
(Embora pouca gente tenha visto)
Foi a ressurreição de Jesus Cristo!

                       IX

Outra lenda que até hoje ainda é contada
E que chega a causar torpor e espanto,
É uma história que tem alma penada
E está toda imbuída de quebranto.
Aconteceu que em certa madrugada,
Dois moços embriagados e, portanto,
Fora do raciocínio mais perfeito,
Uma aposta fizeram de atro efeito.

                       X

Um deles deveria, em noite incerta,
Visitar o sombrio cemitério
À meia-noite e ali ficar de alerta
Para espantar todo e qualquer mistério
Que pode haver além da morte certa.
– Na Cidade dos Mortos, onde o império
É sombrio, medroso, desespera,
E as almas vivem livres da quimera. 
           
            XI

E conta-se que após o pacto feito,
Como a provar seu ato de coragem
Dentro do Cemitério, havia um jeito:
Para marcar ali sua passagem
E que seria um álibi perfeito
Onde fosse fazer sua paragem –
E para enaltecer assim seu ego,
Fincaria no chão um grande prego!

                       XII

Em certa noite atroz de chuva e frio,
Usando velha e já surrada capa,
– Noite que de pensar causa arrepio –
Estudou cuidadosamente o mapa:
Quando parda coruja deu um pio,
– Pio noturno que na noite escapa! –
Rente a uma tumba velha e abandonada,
Fincou o prego em forte martelada...

                       XIII

O clarão de um relâmpago transunto
Riscou o céu num fulvo bruxuleio...
Tentou sair correndo, ir para junto
De mais pessoas, mas... em seu anseio,
Pensou que o segurava algum defunto
E gritando de susto e de receio,
Não percebeu que em sua atra afoiteza,
A capa ao prego ele deixara presa...

                       XIV

Apavorado por se ver seguro,
Um enfarte cardíaco violento
Na mesm’hora no chão prostrou-o duro...
Soprando bem mais forte, o rude vento,
Assobiava passando junto ao muro...
E quando o sol, do dia trouxe o advento,
Foram achá-lo rente à tumba, absorto,
Escaveirado, horripilante, morto! 

                       XV

Um outro fato que merece crédito
Embora muita gente até duvide,
Fato que pode parecer inédito
E ao incrédulo cause até revide,
E ele solte risadas de descrédito,
Esse mistério esplêndido reside
Junto de nosso estrepitoso Salto
E esta verdade até provoca assalto!

                       XVI

Sendo fábula é mais que uma verdade...
Todas as noites, na quietude enorme,
Que o silêncio tem ares de saudade,
O Salto, por segundos, também dorme...
Parece até que alguma Divindade
Amaina a sua fúria rotiforme,
Mas em segundos sua força volta
E seu estrugitar aos ares solta!

                       XVII

Também existe a lenda apavorante
Da Inhala Seca... Ainda causa medo
E, do Morro do Enxofre, bem distante,
A gente passa por saber o enredo
Dessa mulher que em fúria anavalhante,
Teve um viver amargo, ácido, azedo.
E dizem que era má e que tratava
Com modos maus a sua gente escrava.

                       XVIII

Gostava de impingir cruéis castigos
E aos escravos, tratava com chicote.
Víveres não lhes dava, nem abrigos,
E nas noites, sequer um dúbio archote.
Chegava a lhes negar até jazigos
Como a bênção final de um sacerdote.
A Inhala Seca assim de forma austera
A todos era mais que uma megera.
  
                       XIX

E foram tantas suas malvadezas,
Que ela teve um castigo merecido:
Quando a morte cruel pelas devesas
Entrou em suas terras, num gemido,
Não houve ladainhas, preces, rezas,
Mas um contentamento irreprimido,
A Inhala Seca com a sua morte
Trouxe aos escravos inaudita sorte.

                       XX

E assim como era má, também não teve,
Quem, a seu corpo, desse sepultura;
Fétido e esbranquiçado como a neve
Ficou largado como a desventura
Que a fazer coisas boas não se atreve.
Assim seu corpo, pela noite escura,
Ficou apodrecendo a céu aberto
Pondo mau cheiro a quem passasse perto...

                       XXI

Sua carcaça, por não ter enterro,
Hoje vive vagando sem piedade...
Nas noites erra ao léu, soltando um berro,
Procurando fazer sua maldade.
Pega crianças, leva-as num aterro,
E age somente com perversidade,
E é no Morro do Enxofre que ainda mora
Essa Inhala que a tantos apavora...

                       XXII

No fim dos tempos, diz também a lenda,
Que vai haver horrendo pandemônio.
É para ter início tal contenda
Em frente à Catedral de Santo Antônio:
Visão fantasmagórica, estupenda,
Parecerá ser coisa do demônio:
Pois do ventre da terra, que soçobra,
Irá surgir horripilante cobra...
  
                       XXIII

Este reptil de proporções imensas,
Sob a cidade vive em ansiedade,
E a ele vai ser inútil ter-se crenças,
Que irá tudo engolir sem ter piedade.
Assim várias pessoas passam tensas,
Com medo de viver nesta cidade,
Pois a cobra nefasta, com certeza,
Tudo irá destruir da Natureza!

                       XXIV

Antigamente, muito antigamente,
Bem antes de existir Piracicaba,
Neste recanto belo e reluzente,
Quando aqui nem havia um emboaba
Que fizesse crescer a fúria ardente
Do Cacique-pajé morubixaba,
Nosso Rio era calmo e não possuía
O Salto esbravejante de porfia...

                       XXV

Dessa época perdida na distância,
Quando dos Paiaguá guerreira tribo
Mostrava toda a sua exuberância,
Alimentando-se de peixe e cibo
Que na região havia em abundância,
Que os índios eram rápidos no estribo
Para caçar a gorda capivara
Que de seu bando atroz se descuidara...

                       XXVI

Dessa época perdida no passado,
Que as mulheres vestiam-se de pedra
Para ocultar as partes do pecado,
Que a paisagem de forma poliedra
Era um caleidoscópio iluminado,
Onde o sonho, na mente ardente medra,
E traz inspirações e devaneios
Que fazem palpitar os rubros seios...
  
                       XXVII

Dizia-se dessa época tão linda,
Que uma aldeia de rudes pescadores
(Que aqui vivia numa paz infinda
Co’os Paiaguá – há muito moradores
Que de caça viviam na berlinda)
Tinha no coração ternos amores
Por uma índia que, em noites de alva lua,
No Rio se banhava toda nua...

                       XXVIII

Os seus seios, em forma de alabastros,
Eram eretos, firmes e pontudos...
Seus olhos eram dois brilhantes astros
Cintilando a distância, em céus agudos...
E os cabelos de luz negros, desnastros,
Para os seios formavam dois escudos,
Quando ela, num sonhar airoso e lindo,
Sobre as pedras, quedava-se dormindo.

                       XXIX

Porém, um pescador, a passo intrépido,
Uma noite seguira a índia formosa...
O olhar – na noite atento! o passo – lépido!
Somente descansou ao ver a rosa
À beira-rio em devaneio tépido
Desnudar-se e ficar maravilhosa,
Deslumbrante, tingida pelos raios,
Que a alva lua jorrava entre desmaios...

                       XXX

Ness’hora, – coração em rubra chama, –
Não pode se conter... foi para perto
De onde brilhava a sua etérea dama
E pouco mais se vira descoberto
Pela bela índia que socorro clama...
E ao se ver, nua e só, de peito aberto,
Tenta fugir, mas leva em seu encalço,
As chamas de um amor em doce balso! 

                       XXXI

Doida corrida!... aqui, ramos de espinhos
Prendem chusmas de sua cabeleira...
Mais além, insinuantes burburinhos,
Fazem a alma gemer de tremedeira...
Tenta se aventurar noutros caminhos
Mas sente-se perdida na canseira...
Para. Espreita. E percebe a amplos espaços,
A cadência frenética de passos...

                       XXXII

Quando a lua no céu se descortina
E se mostra no cosmos mais brilhante,
Ela deixa a inocência de menina
E se envolve num sonho fulgurante...
Dos astros soa celestial buzina
E ela vendo-se só na noite ebriante,
Sentindo o coração bater mais forte,
De corpo e alma se entrega nesta sorte...

                       XXXIII

... E quando eles se viram frente a frente,
Palavra alguma então foi pronunciada,
Mas um beijo selou de forma quente
O encontro dessa noite apaixonada.
Grande silêncio foi unicamente
Testemunha da longa madrugada,
Que viu nascer o amor sublime e puro
Que iria eternizar-se no futuro!

                       XXXIV

Dentro da noite imensa, ardentes beijos,
Foram trocados pelos dois amantes,
E quando os corpos, plenos de desejos,
Em prazeres se uniram roçagantes,
Os astros acenderam seus lampejos
E na noite ficaram mais brilhantes,
Para saudar no meio da floresta
As almas que se uniam numa festa!
  
                       XXXV

E paz tão pura assim, jamais foi vista...
Em carinhos passeavam pelos prados
Que abençoavam num canto de solfista
Esses amantes tão enamorados...
Quando a tarde morria, o sol em crista,
Mostrava prismas mágicos, dourados...
E rasteiros no chão, broslados goivos,
De tálamo serviram para os noivos!

                       XXXVI

Na doce paz, na bem-aventurança,
Por esses mais exóticos recantos,
Os dois viveram cheios de esperança,
Falando, tão-somente, em doces cantos,
A linguagem de amor que não se cansa
De ouvir os corações que tem encantos.
– Velho Jequitibá no alto cerrado
Celebrou o Himeneu deste noivado!

                       XXXVII

Porém, o Rio, que guardava em sua
Corrente aquela essência de perfume
De um corpo em provocante forma nua,
Do moço pescador sentia ciúme...
Fora ele que, ao reflexo de irial lua,
Roubara a índia, que tinha por costume,
Nas noites de luar esplendoroso,
Ir, em seu leito, suspirar de gozo...

                       XXXVIII

Triste, o Rio fazia a sua prece,
Para o amor que o deixara abandonado.
Nas noites de luar, sem interesse,
Ele corria só, desamparado...
– Mas um antigo amor jamais se esquece!
E eis que a índia, tendo o coração marcado,
Em certa noite que brilhava a lua,
Quis ir banhar-se totalmente nua. 

                       XXXIX

Mal sentindo de perto aquele cheiro
Que em frêmitos de amor o provocava,
Pôs-se o Rio a rugir alvissareiro!...
Em suas pedras tenazmente escava
Uma cadeia e deixa prisioneiro
– Como se fosse assim a sua escrava! –
Aquele corpo esplêndido e perfeito
Que se banhava nu sobre o seu leito!

                       XL

Porém, o jovem pescador, sentindo
O perigo real de sua Amada,
– Músculos retesando, a voz bramindo,
Enfurecido, não pensando em nada,
Entra no Rio em destemor infindo
E nadando, braçada após braçada,
Tenta agarrar, na fúria que o norteia,
Seu amor que está preso na cadeia!...

                       XLI

Travou-se a intensa luta de gigantes...
O Rio, para não perder aquela,
Por quem nutria sonhos delirantes,
Enfurecido, em uivos de procela,
– Adamastor de presas penetrantes! –
Prendendo a índia em pedregosa cela,
Estruge em lutas, em saraivas, gritos,
Que reboam nos vastos infinitos!

                       XLII

É luta colossal!... No férreo embate
– Não querendo perder a sua presa,
O Rio não se cansa do combate...
E co’a força da própria natureza
Não deixa ao jovem, chances de resgate,
Arrastando-o na sua correnteza,
Gritando, praguejando em sobressalto,
Pois de cadeias tinha agora o Salto!
  
                       XLIII

Ainda hoje, quando brilha a lua cheia,
E quando o Salto dorme por instantes,
Quem estiver passeando junto à areia
De suas margens, ouve delirantes
Gemidos... É a índia presa na cadeia
Que triste chora as mágoas dos amantes
Que vivem sós dentro da imensa noite,
Sem ter o amor antigo que os acoite.

                       XLIV

E diz-se, quando brilha intensa a lua,
Se ouvir a voz dessa sereia, um jovem
Entra no Salto, e a busca, e se insinua,
As cadeias febris loucas se movem
Para ocultar a sua Iara nua...
E parecendo enfim que dos céus chovem
Diluvianos marnéis em alvoroço,
A alma do jovem leva para o Poço!

                       XLV

As lendas no falar de boca a boca,
Com suas forças tornam-se verdades.
E o sobrenatural com fúria louca
No misticismo cria suas grades.
Se alguém as conta de maneira rouca
Pondo mistérios e calamidades,
Fica verdade o que era apenas lenda,
E, em quebrantos, o povo as reverenda.

                       XLVI

Por isso a Inhala Seca ainda caminha
E causa desespero nos descrentes.
Alma penada sempre anda sozinha
E nosso medo faz ranger os dentes.
Melhor rezar sentida ladainha
Depois d’alma tirar medos dementes;
Se tudo está no plano dos mistérios,
Certo será rezar nos cemitérios.
  
                       XLVII

Por isso, com certeza toda lenda,
Tem seu mistério imbuído de verdade.
O povo a ouve, em preces referenda,
Que a decifrá-la falta-lhe vontade.
No duelo infernal de tal contenda
O misticismo cresce na cidade.
E em pérolas de luz cheias de glórias,
Vamos tecendo colossais histórias.

XLVIII

São lendas e crendices populares
Que fazem parte ativa do folclore
De nossas tradições já seculares...
Chiarini, Iglesias, Neme e Carradore,
Desses causos são velhos titulares,
E é natural que as faces alguém core
Contando essas histórias descabidas,
Mas são histórias, sim, de nossas vidas...

                       XLIX

Acender velas e fazer novenas
Aos santos, nos quais temos nossas crenças,
Aos Anjos, Querubins e às Madalenas,
Que soltam suas radiações suspensas
E podem, sim, com suas graças plenas,
Às preces dar milhões de recompensas,
Nossas lendas nos planos da verdade
Trazem a luz da espiritualidade.


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Apresentação Poema "O Evangelho Segundo Judas Ish-Kiriot" Loja Maçônica Acácia Barbarense

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